Política

Perseu faleceu no último dia 6 de março. Muitas justas homenagens foram prestadas.

Perseu faleceu no último dia 6 de março. Muitas justas homenagens foram prestadas. Todos que conviveram com ele são unânimes em destacar sua integridade moral. Em tempos bicudos, em que às vezes a política - mesmo a mais revolucionária - parece se reduzir a uma somatória de ambições pessoais, Perseu nunca se pautou por um projeto político individual.

"Assíduo colaborador de seu tio Claudio Abramo. E, como ele, adepto das doutrinas malsãs".[Trecho da Ficha de Perseu Abramo no DOPS]

"Essas doutrinas malsãs, para nossa sorte, o transformaram em um grande homem. Como conseqüência, num grande jornalista. E, para nossa felicidade, num grande jornalista. E, para nossa felicidade, num grande professor". [Resposta dos alunos, na homenagem a Perseu, prestada pelos formandos de jornalismo da PUC (1990).]

Em novembro de 1987, no bar Avenida, em Pinheiros, o Diretório Regional do PT de São Paulo lançava o primeiro número de Teoria e Debate. Na seção "Memória" aparecia Fúlvio Abramo, falecido há dois anos e tio de Perseu. Na época eu era diretor da revista e o primeiro Conselho de Redação era formado por Eugênio Bucci (editor), Rui Falcão, Paulo de Tarso, Eder Sader, João Machado, eu e Perseu Abramo. Por intermédio do Rui tínhamos convidado o Perseu para ser editor. Não quis, mas aceitou prazeirosamente fazer parte do Conselho e deu a maior força para o Eugênio como editor e para mim como diretor.

Durante pouco mais de um ano Perseu fez parte do Conselho. Com sua enorme experiência jornalística contribuiu em muito. Nas reuniões, às quais dificilmente faltava, não era de falar muito, mas quando abria a boca era mais ou menos a palavra final.

O mais velho entre nós, junto com Rui o mais experiente jornalista, ele era também o mais disciplinado. Nunca deixava de fazer o que tinha comprometido, nunca atrasava a entrega de uma matéria. Quando Eugênio Bucci saiu de férias, ele e Rui fecharam o número três de T&D, trabalhando, com a maior boa vontade, madrugada adentro na casa da Eliana, então editora de arte.

Quando Perseu foi nomeado secretário de Comunicações do governo Erundina, em 1989, pediu afastamento do Conselho de Redação por absoluta falta de tempo. Fazia parte também do seu estilo, não ocupar cargo só por ocupar, não assumir aquilo que ele julgava não poder desempenhar. Mas continuou colaborando com T&D com inúmeros artigos e como membro do Conselho Editorial.

Perseu faleceu no último dia 6 de março. Muitas justas homenagens foram prestadas. Todos que conviveram com ele são unânimes em destacar sua integridade moral. Em tempos bicudos, em que às vezes a política - mesmo a mais revolucionária - parece se reduzir a uma somatória de ambições pessoais, Perseu nunca se pautou por um projeto político individual. Sua vida é uma ininterrupta trajetória de compromisso com a transformação social e com a ética. T&D, em seus nove anos de existência, tem bastante das mãos e do olho de jornalista do Perseu. Que sua receita de vida e de jornalismo seja um exemplo para nós! (RA)

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